A UNITA reinventou-se como havia sugerido, na abertura do conclave (2.12), Isaías Samakuva, figura central, pela opacidade discursiva, quando dele se esperava mais, nomeadamente, um distanciamento claro da estratégia de João Lourenço que o colocou num colete de forças de suspeição, com o indefectível apoio dos terroristas informáticos das redes sociais, que o idolatram, a “contrarium sensu”, à diabolização contra Adalberto da Costa Júnior, actualmente, o dirigente mais cotado e que mais tira o sono a João Lourenço.
Por William Tonet
No mundo das sociedades políticas não há coincidências, por nada ser feito ao acaso e, três momentos, marcaram a “reentré” do líder, Isaías Samakuva, repristinado, pelo Tribunal Constitucional à liderança da UNITA, no 2.12.21, na repetição do XIII Congresso:
a) Pouca ovação dos 1.141 congressistas, na subida ao palanque, de Samakuva (menos de metade da sala a bater palmas, frias), em sinal de rejeição e ou suspeição;
b) Transmissão em directo do seu discurso pela TPA 3 (TVZimbo), numa mensagem para o interior da UNITA, de ser Samakuva a preferência de João Lourenço (teve efeito boomerang);
c) Não declaração, explícita, no final do discurso: “ABERTO OS TRABALHOS DO CONGRESSO!”
Esta omissão, “não declaração de abertura”, foi notória, para um grande número de dirigentes, considerando-a propositada e de atender aos desígnios do MPLA/JLo/Tribunal Constitucional, pelo que seria importante reverter o quadro, para evitar aproveitamentos, posteriores, da partidocracia ditatorial dominante.
Alertado e convencido, no período da tarde, antes da eleição da mesa da presidência do congresso, que foi liderada por Paulo Lukamba “Gato”, coadjuvado por Amélia Judith (vice presidente da mesa), Augusto Samuel (secretário provincial da Huíla) e Liberty Chiaca, líder do grupo parlamentar, o líder da UNITA declarou ABERTO os trabalhos do XIII congresso.
“Nós hoje mostramos, mais uma vez, que o líder escolhido da massa militante é o Adalberto da Costa Júnior, como já o havíamos feito, há dois anos e interrompidos por um assassino Acórdão do Tribunal Constitucional do MPLA. Agora com maior expressão, por terem condicionado o surgimento de outros candidatos, face ao ataque cerrado contra Adalberto, que visto, internamente, como vítima, afastou, por falta de ambiente, outros à corrida para a liderança”, disse em exclusivo ao Folha 8, Júlio António.
“Este congresso foi uma grande e importante resposta, a quem pensou dividir, enfraquecer e “matar” a UNITA, pois desde a preparação, organização e realização do congresso, o comportamento e maturidade dos membros da Comissão Política e outros órgãos, pela coesão interna, superando de longe a covardia dos dirigentes do bureau político e comité central do MPLA, que face às borradas de um líder impreparado, preferem calar-se, com medo de perder as mordomias, a defender a imagem desgastada do seu partido em quatro anos e o aumento do sofrimento dos cidadãos”, concluiu o delegado, por Cabinda, Júlio António.
A participação expressiva dos delegados, em representação do todo nacional (18 províncias) inicialmente prevista de 1.150, participaram apenas, 1.141 (menos 9, por doença e óbitos, à última hora) e, no dia da votação final, não eleição, por ter sido candidato único, estiveram a depositar voto, nas urnas, por Adalberto da Costa Júnior, 1.081 (mil e oitenta e um) congressistas, representando, 96,43% dos votos válidos.
“João Lourenço, a sua máquina assassina de carácter, o MPLA/Covarde, o Tribunal Constitucional contribuíram para este resultado, impensável, na UNITA, face à cultura de multi-candidaturas, no nosso partido, se estivesse em normalidade e não a responder uma estratégia do “inimigo” de nos tentar aniquilar, recorrendo a todos os órgãos do Estado, incluindo dinheiro público, para comprar traidores, visando desestabilizar e condicionar a unidade interna do partido”, denunciou o histórico general, na reforma, Samuel.
Neste congresso pairou no ar o sentimento da sobrevivência e coesão interna da organização, que não poderia claudicar “ante a terrível máquina do adversário, que quer ditar a nossa acção e opção, principalmente, quanto a galvanizar toda a sociedade civil, para resgatarmos o país do descalabro”, disse ao F8, o eleito presidente da UNITA.
“Nós esclarecemos, com pormenores, os delegados, que a ideia da Frente Patriótica Unida, o temor do nosso principal adversário, não é da lavra de Adalberto da Costa Júnior, nem desta Comissão Política, mas do nosso líder fundador, Dr. Jonas Malheiro Savimbi, que agora temos a obrigação de o materializar, em nome de Angola e do sofrimento, imposto, a maioria dos angolanos, pela política ruinosa do Presidente da República”, assume Adalberto da Costa Júnior.
Por outro lado, neste exclusivo ao F8, mensagem importante foi a de reconhecimento do objecto maior da UNITA, “que não é uma obsessão pelo poder, mas uma responsabilidade histórica de congregar todos os angolanos patriotas, para salvarmos o país do autoritarismo e ditadura, ante uma política nefasta, de entregacionismo da soberania económica ao capital estrangeiro, que, na maioria das vezes, é denunciado como estando a fazer de Angola, uma lavandaria de dinheiro. Nós queremos, com os angolanos, nacionalistas, principalmente, com o apoio da juventude e das autoridades tradicionais, em liberdade, não oprimindo as suas culturas, implementar um verdadeiro projecto de sociedade, que Angola nunca teve, desde 1975”.
Por outro lado, afirma o novo líder (reconduzido, para tristeza de João Lourenço e toda a sua máquina de diabolização), “o combate selectivo à corrupção, responsável pelo aumento da fome, desemprego, miséria, combate contra a liberdade de imprensa, monopólio da comunicação social pública, a favor de João Lourenço, sem direito ao contraditório, atacando, ostensivamente, os adversários políticos, afectação directa de obras públicas aos amigos, aumento exponencial da corrupção, proibição de criação de partidos políticos, como o PRA -JA de Abel Chivukuvuku, alteração da Constituição e da Lei Eleitoral, para beneficiar um homem e um partido, defraudando a transparência eleitoral e a democracia, demonstram uma gestão económica, social e política, pior do que a vivida, no tempo do Presidente José Eduardo dos Santos”.
Na sua opinião, os delegados ao XIII congresso assumiram o papel de “guardiões do projecto de Muangai, convertendo-o na Bíblia da organização, com blindados procedimentos, do exercício de democracia interna, desconhecidos e inacessíveis na mente do presidente do MPLA”.
Na sua óptica, num Estado democrático e de direito a actuação de um Presidente da República, muitas vezes, nas vestes de Chefe de Estado, deve ser de órgão moderador, conciliador e reconciliador e não de um autêntico tirano e ditador, “porquanto tal postura, pode, mais tarde ou mais cedo, levar o país ao descalabro total, se não for parado e, nisso os membros dirigentes do MPLA, em primeiro plano, têm de ter coragem de evitar ou assumir a sua cumplicidade”, assegurou entre um misto de euforia e cepticismo.
Agora é a hora do Tribunal Constitucional mostrar higiene intelectual e jurídica ou o contrário, na hora de validação deste segundo XIII congresso e de João Lourenço mostrar estatura, ao menos, uma vez, de ser estadista, reconhecendo, com humildade, o fracasso da sua estratégia de tirar de jogo, um adversário, invertendo “o veio para ficar”, na posse de Adalberto da Costa Júnior, como conselheiro, no Conselho da República, depois de reeleito, pelos militantes do Galo Negro, para o defrontar, nas eleições gerais de 2022, como cabeça-de-lista do maior partido da oposição e líder da Frente Patriótica Unida para a Alternância.